Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

24.4.08

TRABALHO PRÁTICO DOS ALUNOS DE ECOLOGIA URBANA 2007-2008

O trabalho prático, este ano, constitui mais um passo nas preocupações pedagógicas que a cadeira de ecologia urbana vem promovendo.
Desde há vários anos, conforme se pode verificar através das sucessivas contribuições na Anuária e no jornal A Página da Educação, tenho promovido uma focagem ecológica através de propostas concretas. Temos feito uma abordagem mais centrada sobre a cidade do Porto.
Foram vários os trabalhos dos alunos sobre a cidade: trabalhos práticos sobre o Porto, o Parque da Cidade, o Campus Universitário e este ano, a Faculdade de Arquitectura.
Ao longo destas experiências temos vindo a utilizar a metodologia Dieter Magnus, na revelação duma realidade que se pretende mudar e que exige uma visualização prévia de cenários possíveis que antecipem essa estratégia de mudança.
Por outro lado, utilizando o conceito de acupunctura urbana de Jaime Lerner, procuramos propôr intervenções em pontos decisivos que devido ao posicionamento e à dinâmica de conteúdo social, criem sinergias para uma transformação mais profunda e alargada. Esses pontos de intervenção sistémica mobilizam acções interactivas no local e no global, contribuindo assim para uma geoestratégia articulada e planeada a curto, médio e longo prazo.
A escolha da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto é um exemplo dessa eco-geoestratégia.
Gerar uma escola de arquitectura pela sua forma e conteúdo exemplares é agir num edifício de valor simbólico para a arquitectura. Por outro lado, ligando o edifício à própria formação de eco-arquitectura é gerar novos agentes para o futuro da arquitectura.
O eco-edifício torna-se gerador de sustentabilidade e maior autonomia para a manutenção do seu funcionamento, tornando-se uma experiência-piloto exemplar.
Vejamos como se pode antever esse edifício exemplar:

1. Criar um espaço de relação com a comunidade, abrindo a escola a serviços para o exterior (cursos, workshops, cinema, teatro, música, etc.);

2. Criar uma escola para crianças com um jardim de aventuras que possa dar apoio aos filhos de professores, funcionários e alunos e também para a população do bairro;

3. Desenvolver hortas rurais de apoio à cantina e um ponto de venda com produtos agro-ecológicos. O uso da permacultura poderá estabelecer “zonas” inter-activas e permitir elementos simbióticos geradores de multifuncionalidades integradas. Assim, os taludes serão processos naturais de divisórias, corta-ventos e simultaneamente eco-topos para variadíssimas produções de arbustos e árvores de fruto. A cantina poderá abrir-se a utentes externos à escola;

4. Desenvolver uma logística em energias renováveis que permita fazer da eco-escola um centro positivo, gerador de energia (eólica e solar) que, para além de tornar autónoma a Faculdade, permitiria a venda de energia à EDP;

5. Promover a recolha de águas pluviais e proceder à biodepuração de águas residuais. Estas águas podem permitir reservas para a horta e pomar, ao mesmo tempo que podem alimentar uma piscina biológica e lago piscícola;

6. Proceder a um ciclo de metabolismo circular de modo a que todo o “lixo” se torne “nutriente” no processo de reciclagem e reutilização. Os nutrientes orgânicos são compostados e utilizados como fertilizantes em agro-ecologia. As águas serão, como vimos, reutilizadas nas diversas funções (rega, uso doméstico, piscina, lagunagem, etc.);

7. Um vasto sistema de bioclimatização permitirá, preventivamente, evitar despesas no aquecimento ou arrefecimento. Será necessário proceder a um eco-paisagismo, orientando as árvores e os desníveis, os muros verdes, os taludes, os declives e os espelhos de água, como pontos de equilíbrio bioclimático externo, antes mesmo de intervir no edifício. No edifício, propriamente dito, o uso de materiais de acumulação térmica e de isolamento, permitirá um maior conforto, sendo aplicados vários sistemas (tectos verdes, sistema Trombe, termoacumuladores solares, acumuladores de poços canadianos e provençal, estufas solares, etc..

8. Criar uma rede de comunicações pedonais, passarelas e vias de velocípedes, integrando todo este sistema aos transportes colectivos de ecotransporte.

Todos esses processos serão articulados segundo uma sensibilização estética e uma funcionalidade sistémica gerada através de uma ecotecnologia o mais apropriável possível pelos utentes.
Estas actividades exigem ecocompetências transdisciplinares e pressupõem equipas solidárias de investigação e aplicação prática.
É a renovação universitária, por excelência, deste projecto que pretende ser uma ruptura epistemológica em relação à forma do ensino tradicional, baseada no academismo serôdio, na ausência de experimentação e no corporativismo dum saber disciplinar limitado e arrogantemente auto-convencido.

Professor Doutor Jacinto Rodrigues

Catálogo de imagens de soluções já realizadas em diferentes sítios