O trabalho prático, este ano, constitui mais um passo nas preocupações pedagógicas que a cadeira de ecologia urbana vem promovendo.
Desde há vários anos, conforme se pode verificar através das sucessivas contribuições na Anuária e no jornal A Página da Educação, tenho promovido uma focagem ecológica através de propostas concretas. Temos feito uma abordagem mais centrada sobre a cidade do Porto.
Foram vários os trabalhos dos alunos sobre a cidade: trabalhos práticos sobre o Porto, o Parque da Cidade, o Campus Universitário e este ano, a Faculdade de Arquitectura.
Ao longo destas experiências temos vindo a utilizar a metodologia Dieter Magnus, na revelação duma realidade que se pretende mudar e que exige uma visualização prévia de cenários possíveis que antecipem essa estratégia de mudança.
Por outro lado, utilizando o conceito de acupunctura urbana de Jaime Lerner, procuramos propôr intervenções em pontos decisivos que devido ao posicionamento e à dinâmica de conteúdo social, criem sinergias para uma transformação mais profunda e alargada. Esses pontos de intervenção sistémica mobilizam acções interactivas no local e no global, contribuindo assim para uma geoestratégia articulada e planeada a curto, médio e longo prazo.
A escolha da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto é um exemplo dessa eco-geoestratégia.
Gerar uma escola de arquitectura pela sua forma e conteúdo exemplares é agir num edifício de valor simbólico para a arquitectura. Por outro lado, ligando o edifício à própria formação de eco-arquitectura é gerar novos agentes para o futuro da arquitectura.
O eco-edifício torna-se gerador de sustentabilidade e maior autonomia para a manutenção do seu funcionamento, tornando-se uma experiência-piloto exemplar.
Vejamos como se pode antever esse edifício exemplar:
1. Criar um espaço de relação com a comunidade, abrindo a escola a serviços para o exterior (cursos, workshops, cinema, teatro, música, etc.);
2. Criar uma escola para crianças com um jardim de aventuras que possa dar apoio aos filhos de professores, funcionários e alunos e também para a população do bairro;
3. Desenvolver hortas rurais de apoio à cantina e um ponto de venda com produtos agro-ecológicos. O uso da permacultura poderá estabelecer “zonas” inter-activas e permitir elementos simbióticos geradores de multifuncionalidades integradas. Assim, os taludes serão processos naturais de divisórias, corta-ventos e simultaneamente eco-topos para variadíssimas produções de arbustos e árvores de fruto. A cantina poderá abrir-se a utentes externos à escola;
4. Desenvolver uma logística em energias renováveis que permita fazer da eco-escola um centro positivo, gerador de energia (eólica e solar) que, para além de tornar autónoma a Faculdade, permitiria a venda de energia à EDP;
5. Promover a recolha de águas pluviais e proceder à biodepuração de águas residuais. Estas águas podem permitir reservas para a horta e pomar, ao mesmo tempo que podem alimentar uma piscina biológica e lago piscícola;
6. Proceder a um ciclo de metabolismo circular de modo a que todo o “lixo” se torne “nutriente” no processo de reciclagem e reutilização. Os nutrientes orgânicos são compostados e utilizados como fertilizantes em agro-ecologia. As águas serão, como vimos, reutilizadas nas diversas funções (rega, uso doméstico, piscina, lagunagem, etc.);
7. Um vasto sistema de bioclimatização permitirá, preventivamente, evitar despesas no aquecimento ou arrefecimento. Será necessário proceder a um eco-paisagismo, orientando as árvores e os desníveis, os muros verdes, os taludes, os declives e os espelhos de água, como pontos de equilíbrio bioclimático externo, antes mesmo de intervir no edifício. No edifício, propriamente dito, o uso de materiais de acumulação térmica e de isolamento, permitirá um maior conforto, sendo aplicados vários sistemas (tectos verdes, sistema Trombe, termoacumuladores solares, acumuladores de poços canadianos e provençal, estufas solares, etc..
8. Criar uma rede de comunicações pedonais, passarelas e vias de velocípedes, integrando todo este sistema aos transportes colectivos de ecotransporte.
Todos esses processos serão articulados segundo uma sensibilização estética e uma funcionalidade sistémica gerada através de uma ecotecnologia o mais apropriável possível pelos utentes.
Estas actividades exigem ecocompetências transdisciplinares e pressupõem equipas solidárias de investigação e aplicação prática.
É a renovação universitária, por excelência, deste projecto que pretende ser uma ruptura epistemológica em relação à forma do ensino tradicional, baseada no academismo serôdio, na ausência de experimentação e no corporativismo dum saber disciplinar limitado e arrogantemente auto-convencido.
Professor Doutor Jacinto Rodrigues
Catálogo de imagens de soluções já realizadas em diferentes sítios