Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

16.3.07

artigo do Arq. Jorge Lira sobre a Cal - parte 1

A cal pura não se encontra na natureza. A que se pode encontrar em venda, e que depois de tratada, se utiliza na composição de argamassas para construção, sob a forma designada como CAL PURA, CAL VIVA ou antigamente designada por CAL VIRGEM, resulta do aquecimento de pedras de calcário ou calcite (por exemplo, proveniente das minas de Stº Adrião) em fornos próprios (os fornos da Cal) a temperaturas elevadas (cerca de 600o C a 800 oC), processo que se designa por Calcinação. Na ausência de pedra calcária, podem-se utilizar quaisquer resíduos de natureza calcária ou com em que o cálcio tenha componente significativa (por exemplo, cascas de crustáceos e mariscos, ossos ou ainda, qualquer tipo de coral) o que resulta em pastas e argamassas de tipo totalmente diverso, mas não menos robusto ou duradouro (por exemplo, a fortaleza de S. Jorge da Mina foi erguida por portugueses com recurso a argamassas de cal obtidas através da calcinação de cascas de mariscos locais). Durante o processo de calcinação o que ocorre é que o óxido de cálcio é extraído, processo este que dá posteriormente ao produto resultante a capacidade de reagir com a água e posteriormente, quando já misturado com a argamassa, endurecer em contacto com o ar ou com a água. Esta propriedade de endurecimento em contacto com o ar ou com a água explica a realização bem sucedida de muitas obras de construção sub aquática em períodos da história em que outras tecnologias mais sofisticadas não estavam disponíveis, tal como a construção de Pegões e pilares de pontes dentro leitos de rios. O tempo necessário para se completar completamente a operação e o endurecimento só pode, caso a caso, ser fixado em termos absolutos por experiências, pois não depende exclusivamente da natureza da pedra calcária nem da qualidade do combustível, mas também do sistema do forno, da sua capacidade, do estado da atmosfera, da força do vento... como em qualquer sistema não industrial, o processo artesanal de obtenção da Cal é “temperamental” e apenas uma prática longamente adquirida poderá manter um controlo do sistema mais ou menos eficaz. A presença do vapor de água facilita a calcinação pelo que convém que os calcários tenham alguma humidade. Durante o processo de calcinação, os calcários deverão perder cerca de 45% do seu peso original, perdendo também volume de forma significativa.