Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

25.1.09

Relatório para a Sustentabilidade Ecológica da PUC –Rio de Janeiro

Durante a semana que estivemos no Rio de Janeiro e fizemos palestras e um work-shop com os alunos da PUC, analisei o terreno e os edifícios da Universidade. Foi uma rápida observação qualitativa. Haveria que ter dados imprescindíveis para uma abordagem monográfica do “sítio”: topografia (temperaturas sazonais, poluição do rio, exposição solar do lugar durante o ano, força motriz do vento, diurna e nocturna, ao longo do ano, etc.) para um trabalho mais detalhado. Haveria ainda que conhecer as árvores, o tipo de plantas (depurativas e outras, para sistemas de lagunagem e depuração das águas, variedades piscícolas susceptíveis de viverem na água do rio, etc. Para a criação de cenários com maior rigor e não apenas hipóteses possíveis como estas que aqui proponho, haveria que fazer um levantamento da “pegada ecológica” efectuada pela população (professores, alunos, funcionários e visitantes) no território da P.U.C. (gastos energéticos, água potável, águas residuais, materiais tóxicos e não recicláveis, etc.). Um estudo dos fluxos do metabolismo territorial poderá dar informações mais precisas para a criação de alternativas, metodologias ou visualizações à “Dieter Magnus”, mobilizando e estimulando a criatividade.
Contudo, mesmo sem esses dados imprescindíveis para um melhor reconhecimento da área geo-fito-morfológica, apontarei uma estratégia básica que melhoraria a sustentabilidade do Campus Universitário da PUC do Rio de Janeiro. Um sistema de energias renováveis que permitisse auto-suficiência eléctrica e eventualmente fazer dos edifícios da PUC uma base logística de energia positiva, isto é, a possibilidade de ter um sistema fotovoltaico distribuído ao longo dos vários telhados e terraços das construções edificadas que permitisse a obtenção de energia solar capaz de responder aos gastos internos da Universidade e permitir ainda vender à rede eléctrica da cidade, tirando daí benefícios. Um sistema eólico básico, provavelmente Sovonius horizontais, de pequeno porte, que permitissem conjugar a produção eléctrica das fotovoltaicas. Essas eólicas de pequeno porte poderiam beneficiar de corredores de vento criados pelos próprios painéis que valorizariam o impacto eólico. Alguns painéis termo-solares poderiam permitir água quente básica para as necessidades internas, chuveiros, actividades culinárias, lavagens de roupa e louça, etc. Armazenamento de águas pluviais e bioclimatização. Aproveitamento dos tectos e paredes para uma cobertura vegetal (tectos e paredes verdes) que melhor permitissem bioclimatizar os edifícios propiciando ainda a recepção de águas pluviais e sua biodepuração, armazenando em cisternas essa água que poderia ser utilizada no uso diário dos edifícios e ainda aumentar o caudal do rio em água limpa. Esse armazenamento permitiria tiradas de água para geotermizar os edifícios.
Arvoredo útil e agradável . Uma ocupação de flora e fauna apropriadas para criar condições térmicas melhores, graças ao sombreamento, à obtenção de corredores de vento, à frescura da vegetação, aos espelhos de água, às cascatas, aos taludes que canalizam ventos, etc. Todos esses requisitos da eco-jardinagem permitiria uma articulação de meios de “engenharia natural” para melhorar solos, propiciar árvores de fruta, plantas aromáticas e medicinais, bem assim como ecosistemas de biodepuração das águas do rio. Valorização do rio. A revitalização das margens do rio, o aumento do caudal das águas através do encaminhamento das águas pluviais e aprofundamento eventual do leito do rio são aspectos que poderiam ser realizados. Este problema é complexo pois a intervenção a meio do caudal, sem trabalhar todo o rio da nascente a juzante, é obra quase sempre votada ao fracasso. Só um esforço municipal poderia coadjuvar com eficiência esta operação tão decisiva que melhoraria climática e paisagisticamente a importância do rio……
No entanto se não se criarem condições para um tratamento global e se o rio não for poluído pelos efluentes industriais, é sempre possível conseguir uma travagem das águas num sistema de lagunagem, através de processos biodepurativos, utilizando mesmo estufas de aceleração do metabolismo vegetativo (jacintos de água, fragmitas comunis, por exemplo). O rio proporciona além do sistema biodepurativo, um meio propício a vários elementos para um eco-sistema nutricional: peixes, patos, algas são alguns dos elementos que poderão servir de base alimentar à cantina. Esta fonte alimentar estaria ligada a todas as actividades agro-ecológicas do paisagismo geral de que já falamos. Toda a produção de frutas, legumes, peixes, galinhas, patos, etc., poderiam fornecer o restaurante e um possível ponto de vendas de produtos biológicos. Parques de estacionamento O tráfico deve ficar vedado aos espaços internos da PUC. O local onde actualmente se faz o estacionamento principal deveria dar lugar a uma ligeira e efémera estrutura para encontro e festas de convívio e cultura. Eventualmente poderia construir-se um parque subterrâneo. 7. Os edifícios da PUC estão inseridos num espaço fragmentado. Deveriam ser criados trajectos, nomeadamente passarelas, que facilitassem o contacto entre os vários espaços. Veja-se, por exemplo, as rupturas entre os edifícios do Pilotis e o pequeno bairro onde se encontra a associação de estudantes. Os equipamentos oficinais parecem-me da maior importância. Deveriam estar ligados entre si articulando espaços oficinais fechados com campos abertos para as experiências e a realização de demonstrações: . laboratório de protótipos de energias renováveis; . centro de investigação em biomimetismo e biónica. . oficinas de ecoconstrução (bambú, etc.) Conclusão: Para a realização dum trabalho definitivo importa organizar um dossier com os dados essenciais que referi: . monografia; . pegada ecológica; . potencialidade ecológica; . logística disponível e recursos; Este texto constituiria um elemento para a formação da equipa. Seria ainda necessário disponibilizar informações ecotecnológicas e ecoconstrutivas para que os membros da equipa possam participar no enriquecimento dos diversos cenários. Novembro de 2008 Jacinto Rodrigues Professor Catedrático da FAUP