Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

3.2.07

A Água na Paisagem do Séc. XXI - 1ª Parte

Jardins Filtrantes e Produção Agro-Ecológica

São terríveis as imagens de Luanda sob as chuvas torrenciais que vimos nas notícias da semana passada.
Parecia que um dilúvio fizera submergir o bairro do Cazengo. Gente desesperada tentava salvar os magros recursos das sanzalas.
A trovoada e as grandes bátegas de água, encharcavam a pobre gente dos musseques, arrastando tudo numa impressionante voragem. E durante mais de uma semana as chuvas inundaram casas e as terras ficaram alagadas.
Agora, os charcos pairam por todo o território e os detritos vindos dos esgotos desfeitos tornaram as águas pestilentas. Os mosquitos não tardaram quando o sol voltou, por isso está aí o perigo da malária e das desinterias. É a morte que espreita sobre a cidade.
Que medidas se podem adoptar para que, de um modo simples, se possam prevenir futuras catástrofes deste tipo?
Vamos explicitar, neste texto, algumas reflexões que apontam para processos capazes de contribuir para a melhoria de vida das populações, através de meios ecológicos e sustentáveis.
A paisagem humanizada é um ecosistema natural que se interliga aos sistemas artificiais construídos pelo homem. Urbe e natureza constituem assim uma relação simbiótica originando o actual processo civilizacional em que vivemos. A sociosfera gerou um antagonismo com a biosfera devido ao aparecimento duma tecnosfera que esgota e contamina a natureza. Actualmente a biosfera tem um ritmo de regeneração inferior ao esgotamento e poluição gerados pela tecnosfera, baseada na energia fóssil e materiais não recicláveis.
O metabolismo circular, específico dos processos ecosistémicos e bioregenerativos, foi assim perturbado pelo metabolismo linear desta civilização esbanjadora e contaminante.
Para retomar o metabolismo circular bioregenerativo dos ecosistemas naturais, será necessária uma mudança radical. Teremos de substituir as energias fósseis por energias renováveis e substituir a actual tecnosfera por uma ecotecnosfera reciclável e reutilizável.
Assim, o metabolismo circular no paradigma ecológico deixará de ter lixos para ter nutrientes. Nutrientes orgânicos recicláveis no metabolismo regenerativo da biosfera e nutrientes técnicos, reutilizáveis na nova ecotécnica civilizacional baseada em materiais biodegradáveis e energias renováveis.
É neste contexto global que teremos de encarar o ciclo da água.
A produção agro-ecológica e os jardins filtrantes devem inserir-se numa nova visão da complexidade sistémica.
Assim, as águas residuais que contêm fluxos de nutrientes, devem ficar sujeitas a processos de lagunagem para a reciclagem orgânica desses nutrientes, permitindo a obtenção de águas reutilizáveis. Essas águas reutilizáveis podem mesmo vir a tornarem-se águas potáveis.
Vamos descrever, duma forma sintética, o funcionamento dos processos de biofiltragem acoplados à produção agro-ecológica.
É importante organizar bacias para este processo de biodepuração.
Essas lagunagens, (funcionando de uma forma biodepurativa) podem permitir, graças a uma inclinação do terreno, um movimento da água por gravidade.
Podem-se usar micrófitas (algas) para a filtragem da água.
É sempre importante organizar 3 bacias, pois à decantação da primeira bacia, seguem-se outras formas mais eficazes de depuração.
As macrófitas são usadas com eficácia para a filtragem da água (caniços, junquilhos, íris, etc.)
Nestes casos procede-se a uma colheita dos vegetais, de tempos a tempos, para não haver uma infestação (a biomassa recolhida permite fertilizar a terra após feita uma compostagem).