Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

24.1.07

Livro sobre Pancho Guedes


O Doutor Miguel João A. Santiago Fernandes é Professor na Universidade Lusófona - Coordenador-Adjunto do Curso de Arquitectura do I.S.M.A.T., Portimão..
Formou-se em Arquitectura, na FAUTL em 1993.
Em 1996 conclui o mestrado com o tema "As Cidades e o Desejo - Metamorfoses da Utopia no final do séc XX / Rem Koolhaas em Lille".
Doutorou-se em 2005 com uma tese sobre o Arquitecto Pancho Guedes.
Encontra-se no prelo, na Editora Caleidoscópio, a publicar em Março de 2007, um livro que escreveu sobre Pancho Guedes.
No prefácio o Professor Jacinto Rodrigues escreveu:

"Escolher fazer um livro sobre Pancho Guedes é já por si um gesto significativo. Implica um desafio a favor da singularidade e da criatividade e da abertura de horizontes sócio-culturais:

- A complexidade artística de Pancho Guedes exprime-se de modo diversificado tanto na arquitectura como na pintura, escultura, desenho e escrita, revelando uma multiplicidade dos gestos criativos.

- A abrangência de uma longa vida com um empenhamento cultural e cívico em paradigmas culturais e civilizacionais diversificados torna a sua biografia de uma singular profundidade e simultaneamente de uma universalidade cosmopolita, dado que viveu em diferentes continentes e em países de desigual desenvolvimento.

- A obra de Pancho Guedes é reveladora de estilos e de influências várias. Mas é igualmente uma expressão de contra-corrente criativa, endógena ao seu espírito irrequieto e de reflexão pessoal voluntarista.

- É ainda uma obra intensa e múltipla. Espraia-se em projectos de urbanização, construção de edifícios, pinturas e escritos. Mil projectos e utopias ao longo de décadas e centenas de realizações dispersas em vários lugares e países.

É este extraordinário tesouro caleidoscópico e polifónico que o Arquitecto Miguel Santiago Fernandes ousou estudar ao escrever este livro sobre a vida e obra de Pancho Guedes.

O livro que aqui vemos faz este prodigioso esforço de quem também em contra-corrente com os estreitos horizontes da cultura arquitectónica académica em Portugal, afrontou esta enorme tarefa de perceber por dentro a obra de Pancho Guedes.

Neste trabalho há muito mais do que a tarefa documental, difícil e necessária numa tese, de arquivar documentos, de registar e situar as obras, coligir textos e classificar fotos, pinturas, desenhos e projectos. Há a viagem. A peregrinação aos locais que fez o Miguel Santiago Fernandes calcorrear países e lugares onde Pancho Guedes estudou, viveu e criou as suas obras.

É de realçar o longo trabalho de registo e investigação sobre “GuedesBurgo” ou seja Maputo, antiga Lourenço Marques onde Pancho Guedes deixou a marca indelével dos seus principais edifícios.

Neste livro mostram-se também as metamorfoses várias da obra complexa de Pancho Guedes. Uma composição aparentemente paradoxal entre o orgânico e o moderno, entre moderno e pós-moderno ou até pré-moderno e neo-moderno.

Na obra de Pancho Guedes diluem-se fronteiras, revelam-se gestos plásticos onde também estão estruturas e exprimem-se formas racionais onde coexistem escultóricas formas arquitecturais, tradições e descobertas.

Uma polifonia sistémica faz interagir a arte e a técnica de tal modo que nunca podemos distinguir fronteiras ou rupturas. É assim um fluir de metamorfoses como nos revela o autor do livro.

E é talvez por isso que em Pancho Guedes o gesto erudito ou o gesto vernacular estão patentes nas suas obras. Veja-se a simplicidade vernacular do Jardim de Infância clandestino no caniço de Maputo, onde a auto-construção e a reutilização de materiais fazem lembrar as casas do Rural Studio de Samuel Mockbee. para os bairros pobres de Alabama. E simultaneamente o registo hiperconstrutivo da Garagem Otto Barbosa ou do projecto para a Torre Ideal para o Montepio de Moçambique.

Miguel Santiago Fernandes mostra a inteireza deste extraordinário artista arquitecto que é Pancho Guedes. As “personas” que nos revela, ao longo da obra complexa, são como a gigantesca coerência poética que fazem de Pancho Guedes o Fernando Pessoa da Arquitectura, tal como Miguel Santiago Fernandes assinalou.

Interessa ainda mostrar uma qualidade que a metodologia seguida pelo autor nos revela. A escrita resultou também de longas horas de conversas, de filmagens, de inúmeras visitas familiares e profissionais que Miguel Santiago Fernandes realizou com Pancho Guedes.

Por isso, o retratado, Pancho Guedes, torna-se várias vezes autor, intervindo no percurso da investigação de Miguel Santiago Fernandes. Procedendo de um modo pessoano vai ele próprio distanciar-se de si mesmo. A sua própria subjectividade dá lugar a uma reflexão activa sobre si próprio ao ver-se retratado.

E assim, Pancho Guedes intervém criticamente nas considerações tecidas sobre a sua própria obra. É nesta dinâmica sistémica que o autor se torna espelho e o retratado torna-se autor. Surge assim, nesta dialógica, uma acção comunicativa que melhor exprime a obra e o autor.

Deste modo, através de informações e reflexões dum olhar plural e interactivo de quem fez da investigação uma vivência participada, revela-se uma observação, implicada na complexidade dos paradigmas em que se move a arte e a arquitectura, nos tempos de hoje."