Ecologia Urbana

Blog da disciplina de ecologia urbana, do 5º ano da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, docência do Professor Doutor Jacinto Rodrigues

24.1.07

paredes em terra



Existem várias formas de fazer paredes em terra: taipa, BTC, adobe e superadobe.
A taipa é muito usada no Alentejo; é um sistema mais caro do que os outros, porque demora mais tempo a ser executado em obra. Consiste na compactação de terra, por camadas, usando um martelo compressor e cofragens laterais. Tem que existir sempre uma estrutura auxiliar, que pode ser de madeira.
O BTC consiste em blocos constituídos por areia, terra, argila, e 5% de cimento ou de cal. O cimento endurece mais rapidamente, o que se traduz numa economia na obra. O interesse deste processo, é que os blocos podem ser produzidos com formas de encaixe. Em alternativa ou complementaridade, os blocos podem ser travados verticalmente, por exemplo com bambu madeira, ou material semelhante.
O adobe constitui-se por blocos de terra com argila, palha, areia e água, sem matéria orgânica. Pode usar-se palha para melhorar a estrutura do tijolo, dando-lhe mais resistência à tracção. Um tijolo com dimensão de 15 x 20 cm em planta, pode pesar cerca de 16 kgs... compreende-se que estas paredes possam ser portantes. Apenas os cantos, quando existem, deverão ser reforçados para melhor resistência aos sismos.
O superadobe é um processo que utiliza terra ou areia colocada em sacos, e empilhados como se de tijolos se tratasse. Estas pilhas têm que ser travadas verticalmente. Não há notícia de que este processo tenha alguma vez sido utilizado em Portugal.

No estudo das questões sísmicas, surgem os "mourões", que podemos observar nas casas típicas do Alentejo. São reforços perpendiculares às paredes exteriores, que auxiliam a casa na ocorrência de sismos.
Numa parede de 40 cm de adobe, 1/3 da energia do exterior só é transmitida para o interior 6 a 8 horas depois de incidir no exterior, constituindo assim um sistema de aquecimento passivo. Existe menos necessidade de aquecer a casa. O problema do aquecimento excessivo é facilmente resolvido através da ventilação natural.
As paredes não podem ter isolamentos que constituam barreiras para o exterior, senão a casa perde a sua capacidade de ter ganhos solares passivos. Por exemplo, as paredes viradas a norte podem ter isolamento em cortiça para aumentar a sua defesa relativamente às agressões térmicas, enquanto que a sul temos ganhos solares controlados.
Uma boa orientação solar pode complementar as condições para um bom comportamento térmico do edifício.
Não deveriam ser usadas tintas plásticas sobre nenhuma superficie de parede e no adobe é exactamente igual, apenas isolamentos e revestimentos que não impeçam a respiração das paredes.
Existem edifícios de adobe com 14 e 15 pisos. Para isso, os pisos inferiores terão que ter paredes resistentes com uma grande espessura, que vai diminuindo à medida que se sobe no edifício.
O adobe é também dos melhores materiais para insonorização, devido à sua elevada massa, que absorve as ondas sonoras.
Neste sistema construtivo não se verificam condensações, porque existem trocas constantes entre o interior e o exterior (apesar de lentas).
A cal vai endurecendo ao longo dos anos, num processo de molecurazição que consome dióxido de carbono, o que pode constribuir para a melhoria da qualidade do ar no interior do edifício.
Finalmente, temos a informação de que existe uma empresa no Algarve que produz e vende tijolos de Adobe, a Construdobe. No entanto, comprar os tijolos já feitos nem sempre é o um processo economicamente viável e ecológico, devido às grandes deslocações que o material tem que efectuar para chegar ao local de construção.
Ficamos à espera de assisir às construções e projectos do Arq. Filipe Francisco em terra e outros.